Éramos cinco de seis amigos que todos os anos se juntam para recordar uma épica viagem de fim de curso. Desta vez, o programa de festas passava por um fim–de–semana de
male bonding no
rafting. A coisa foi apresentada como sendo um desporto radical, próprio para "limpar" a cabeça de quem passa tanto tempo na cidade, e bom para fazer subir a adrenalina aos poros de peles ambientalmente sujas e artificialmente envelhecidas.
Fato de mergulho, capacete e pagaia na mão, à boa maneira da nossa hierarquia militar, faziam de nós todos uns valentes chouriços. Quatro dos heróis estão declarados pela comunidade amiga como obesos. Nem o melhor pintor teria frieza suficiente para pintar este quadro sem forte ataque de riso.
Chegada a hora tão esperada, a da subida para o barco de borracha, logo ali se provaram as dificuldades que nos esperavam naqueles quinze quilómetros de descida de rápidos sub-infantis. Duas remadas, uma entrada num rápido de trinta centímetros de fundura e "gordo" ao banho. De pronto a solidariedade de amigos inseparáveis veio ao de cima… risota generalizada e gordo às cambalhotas agarrado em pânico a uma corda do bote.
Depois de o fazer regressar à companhia da restante tripulação, eis que estávamos mais uma vez perante um rápido, este para Homens de barba rija: tinha quarenta e cinco centímetros de altura e uma bravura de fazer corar qualquer salmão à procura de poiso para a desova. Três remadas, uma lomba de água, barco para a direita e obesos para a esquerda… áaaaaaaaaagua. Coitados, quatro bóias de sinalização e um tronco à deriva.
Refeitos desta paródia, os cinco bacalhaus de molho regressaram com vontade para fazer um salto de sete metros em direcção ao centro de ebulição (o ponto mais fundo do rio): um rápido de grau 5. Isto sim, fez esquecer todos os problemas que nos acompanham no cantinho mais recôndito da cabeça. Saltoooooooooooooooooo que quando viemos à tona de água ainda sentíamos as pernas a tremer e o coração aos pulos lá para os dedos dos pés.
O restante percurso é de uma beleza paisagística tal que só nos fez pensar quanto é bom viver na serra e ter pequenos prazeres saudáveis, como pescar bogas ou assar chouriços caseiros debaixo de um carvalho ao anoitecer. O
stress aqui não faz sentido nem consta do dicionário.
Para o ano, um novo evento, com a certeza de juntar cinco ou seis amigos que jamais voltarão costas uns aos outros, independentemente do que possa acontecer na vida de cada um. Na terra, na água ou no ar, como foi prometido pelo próximo mordomo, o mais importante da vida são os AMIGOS.
Um bem-haja para quem organizou este fim-de-semana, e que mais vai organizar com toda a certeza. Um gordo, viva! Dois gordos, viva! viva!… … …